segunda-feira, 20 de junho de 2011

DEUS E O SANGUE NO VELHO TESTAMENTO: REFLEXÕES




 
Em Gênesis 9:3-4, Deus faz aliança com Noé, assim dizendo: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora. Carne, porém, com a sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis” (grifo nosso).
Deus proibiu Noé de comer o sangue dos animais em virtude de este simbolizar a vida. A lei de Moisés também traz o mesmo mandamento em relação ao povo de Israel (Deuteronômio 12:16).
Nosso Deus é um Deus de pactos, de aliança e tem sido assim durante toda a história humana.
Quando o homem pecou no Jardim do Éden, toda a raça humana ficou condenada a morte física e espiritual e o relacionamento com Deus foi rompido. O homem passou a ser morto espiritualmente e dominado pelas paixões da carne, passando a ser inimigo de Deus e condenado ao inferno e a morte eterna.
Contudo, apesar da queda do homem, Deus, segundo a sua soberana vontade e para cumprir o seu eterno propósito, resolveu fazer uma aliança com o homem, a fim de lhe propiciar a salvação eterna na pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, pela sua morte de cruz e derramamento de sangue, livrou-nos do poder do pecado e da morte, garantindo-nos o livre acesso a Deus.
No Velho Testamento, encontramos o sacrifício de animais como símbolo do sacrifício de Jesus. Deus instituiu o sistema de sacrifícios de animais apontando para o sacrifício de Cristo, que, de uma vez por todas, pagou a dívida do nosso pecado e nos concedeu a vida eterna (Hebreus 7:20-28; 8:1-13; 9:11-28).
O sangue simboliza a vida e o pecado trouxe a morte e uma dívida contra a raça humana, a qual se não fosse paga, trar-nos-ia a punição eterna. A única forma de pagar a dívida pelo pecado é o derramamento de sangue, conforme se lê em Hebreus 9:22: “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão” (= perdão).
Deus é justo e a sua justiça faz parte do seu caráter, o qual não muda, não podendo Ele negar-se a si mesmo. A dívida do pecado precisava ser paga. O pecado não poderia ser simplesmente esquecido. Era necessário o derramamento do sangue, não o sacrifício de qualquer vida e o derramamento de qualquer sangue, mas de um sacrifício puro, aceitável e perfeito para que a dívida pudesse ser paga satisfatoriamente, o que só foi cumprido plenamente em Jesus Cristo, mostrando que, em que pese haver um decreto de condenação e de dívida e de Deus não poder negar a sua própria justiça, o Senhor mesmo pagou a nossa dívida, concedendo-nos a vida eterna. Isso é o mais belo no caráter do Senhor: ver que o amor, a misericórdia e a graça pesaram mais na balança da justiça de Deus.
Analisando a Lei de Moisés, no livro do Levítico (Lv), encontram-se cinco tipos de sacrifícios e ofertas: 1- o holocausto (Lv 1 e 6:8-18); 2- a oferta de manjares (Lv 2); 3- a oferta pacífica (Lv 3 e 7:11-21); 4- o sacrifício pelo pecado (Lv 4); 5- a oferta pela culpa (Lv 7:1-10).
A essência dos sacrifícios de animais com derramamento de sangue está em Levítico 1:3-5:

Se a sua oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito; à porta da tenda da congregação o trará, para que o homem seja aceito pelo Senhor. E porá a mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito a favor dele, para a sua expiação. Depois imolará o novilho perante o Senhor; e os filhos de Arão, os sacerdotes, apresentarão o sangue e aspergirão ao redor sobre o altar que está diante da porta da tenda da congregação.

O holocausto também poderia ser de carneiros ou cabritos (Lv 1:10) ou mesmo de aves (Lv 1:14).
Conforme já se mencionou acima, todos esses sacrifícios e ofertas apontam para o sacrifício de Cristo. Deus usa realidades físicas para mostrar princípios e realidades espirituais. Isto porque o sangue de animais nunca teve o poder de garantir de forma eficaz o pagamento da dívida do pecado (Hebreus 10:1 e 4), mas somente o sangue de Cristo derramado na cruz (Hb 9:14).
Dos sacrifícios, inclusive o de Cristo, podem ser extraídos os seguintes princípios:
1- Restauram a comunhão entre Deus e o homem (Lv 1:3: “para que o homem seja aceito perante o Senhor”). Com o sacrifício de Cristo, somos reconciliados com Deus e nos tornamos seus filhos. Ao invés de inimigos de Deus, ao recebermos Jesus como nosso salvador, nós passamos a ser templos do Espírito Santo, adotados pelo Senhor como filhos e recebendo dEle uma herança eterna (cf. Romanos 5:9-10 e 8:12-17). Isso mostra a necessidade de buscarmos e recebermos uma nova identidade em Cristo: tomar posse da nossa condição de filho de Deus e sermos completamente guiados pelo seu Espírito Santo para fazermos a obra do Senhor, ganhando vidas. Não somos inadequados, sem valor, sem destino, mas somos preciosos para Deus e amados por Ele e destinados ao Céu e para fazermos grandes obras para Jesus. Podemos ter intimidade com o nosso querido Criador e Pai.
2- Apontam para a necessidade de que o ser a ser oferecido como sacrifício seja perfeito. Em Lv 1:3, vemos que o animal a ser sacrificado será “macho sem defeito”, o que aponta para Jesus que era perfeito e sem pecado, “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (Hebreus 7:26). Isso aponta para a necessidade de santidade em nossas vidas. Ser santo não significa que não pecaremos mais, entretanto, mostra que, apesar de pecadores, somos aceitos por Deus e cumprimos os seus mandamentos porque o amamos, sendo separados do pecado e do mundo. Deus diz: “vós sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11: 45). A santidade faz parte da nossa nova identidade em Cristo. Faz parte de sermos semelhantes a Cristo.
3- Satisfazem a necessidade da justiça de Deus, se realizados de acordo com os mandamentos que o próprio Senhor estabeleceu, pagando a dívida do pecado (Lv 1:4: “expiação” = libertar da culpa cumprindo a pena; purificar-se de crimes ou pecados).
Com o sacrifício de Jesus, o nosso pecado foi pago e coberto pelo seu sangue, temos a garantia da vida eterna e, se o recebemos como salvador, não temos porque carregar o peso da condenação. Não temos mais porque andarmos sob o peso do medo, da vergonha, da rejeição, da inferioridade, da timidez, da tristeza e da depressão: tudo isto faz parte da identidade que o diabo quer plantar em nossos corações para que não tenhamos vida em Deus. A verdade de Deus é que, pelo sangue de Jesus, somos purificados de toda a injustiça do pecado. Jesus pagou o preço da nossa liberdade.
Isto também mostra o fato de que não podemos ter um relacionamento com Deus de qualquer jeito; temos que andar de acordo com os mandamentos que Deus nos deu. Temos de andar em obediência a Deus em tudo e honrarmos ao Senhor.  
4- São feitos em lugar do pecador, substituindo-o (Lv 1:4: “E porá a mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito a favor dele”). O animal e o Cordeiro de Deus recebem o castigo que, em verdade, o pecador deveria sofrer. Nós é que deveríamos sofrer a morte e a punição eterna pela desobediência a Deus. A aceitação pelo Senhor do sacrifício de Jesus em nosso lugar mostra a misericórdia e a graça de Deus. Em Isaías 53:4-6, vemos que Jesus levou sobre si o castigo que estava destinado a nós; Jesus levou sobre si na cruz o nosso pecado, as nossas dores e doenças, o que nos indica que Deus nos restaura das nossas dores e doenças físicas, psicológicas e espirituais, libertando-nos das nossas prisões da carne, das emoções e até de demônios que estejam atuando em nossas vidas. Em Jesus, podemos ser sarados de tudo que nos castiga e nos faz sofrer, desde que tomemos posse pela fé do sacrifício de Cristo.
5- Indicam a necessidade de tomarmos parte no sacrifício, fazendo o que nos cabe. Em Lv 1:2, vemos que o homem toma parte no sacrifício, assumindo a responsabilidade de trazer o animal para o sacrifício em favor dele.
Com essa atitude o pecador publicamente assumia que estava trazendo um animal para o sacrifício em favor de pecados que ele tinha cometido; assumia que ele era pecador e que precisava ser limpo e perdoado; todos podiam ver que ele trazia o animal.
Isso indica a necessidade de assumirmos que somos pecadores diante de Deus, que precisamos de restauração, de arrependimento, de perdão, de cura. Temos de assumir a nossa responsabilidade pelos nossos pecados e não jogar a culpa em outras pessoas.
Temos que confessar os nossos pecados uns aos outros e orar uns pelos outros para que possamos receber cura nas áreas de nossa vida que precisam de restauração, conforme podemos ver em Tiago 5:16. Temos de viver de forma transparente, porque o pecado escondido, não confessado e não abandonado nos traz morte, mas a confissão dos pecados nos traz vida e cura e a nossa consciência é liberta do peso da vergonha e da culpa (Salmo 32:1-6). Temos que ser transparentes com os nossos líderes, confessando nossos pecados a eles a fim de sermos curados e viver na liberdade que Cristo quer que vivamos.  
6- Mostram que o pecado nos custa o preço da vida. Em Lv 1:5, vemos que o novilho era imolado. Imolar significa matar em sacrifício. O pecado custa muito caro. Custou a preciosa vida de Jesus e custa a nossa vida e nos traz a morte e punição eterna caso não nos arrependamos e não nos apropriemos do sangue de Cristo em arrependimento e fé. O pecado nos tira a liberdade e a chance de vivermos uma vida feliz e vitoriosa em Cristo, cheia de paz e de esperança. O pecado rouba a nossa identidade em Cristo. Temos que, de fato, romper com tudo o que nos faz pecar: temos de nos afastar de relacionamentos, coisas, prazeres, sentimentos e vícios que nos afastam de Deus e buscar arrependimento e mudar de vida (ex: sexo impuro, amizades que nos fazem pecar, drogas, ódio, rancor, ressentimento, etc.).
7- Apontam que a culpa e a condenação são retirados de nós com o derramamento de sangue do sacrifício, justificando-nos diante de Deus e purificando-nos de toda a injustiça. Conforme já exposto, o sacrifício de Cristo livrou-nos da morte eterna, não havendo mais qualquer acusação ou condenação contra nós; pelo sangue de Cristo, somos declarados justos. O sacrifício de Cristo apaga todo o peso do passado. Não importa o que fizemos ou o que fomos no passado, o sangue de Jesus nos lava e não temos mais qualquer dívida em relação a isto quando entregamos a nossa vida a Deus (ver Rm 8:1-11); não recebemos espírito de escravidão em relação ao nosso passado, mas a liberdade no Senhor.
Lamentavelmente, muitos de nós estamos presos às prisões do passado, sofrendo o peso da culpa, da vergonha, do medo, da rejeição, da depressão, os complexos de inferioridade, da acusação do diabo. Temos por causa disso uma personalidade deformada, dominada por egoísmo, espírito de competição, necessidade extrema de se auto-afirmar, ira com facilidade e falta de amor e sem misericórdia. São feridas na alma que causam uma mente e uma personalidade doente, frutos do pecado; feridas que precisam ser espremidas e curadas com óleo (ver Isaías 1:1-9).
Para que as feridas da alma sejam espremidas e curadas, é necessário arrependimento e confissão dos nossos pecados para Deus e uns aos outros e receber oração em nosso favor através de súplicas e intercessão (Tg 5:16).
Também temos que aceitar a confrontação dos irmãos maduros na fé. Nossos líderes vão dizer muitas coisas que vão nos deixar contra a parede, coisas difíceis de ouvir a respeito de nós e de como nos comportamos, mas temos de aceitar o confronto e mudar de vida, buscando mais a Deus. Só assim poderemos receber a renovação da nossa mente por meio do Espírito Santo, que opera uma mudança sobrenatural em nós (ver Rm 12:2), ou seja, a mudança da forma como pensamos e avaliamos as coisas e as pessoas para ter a mente de Cristo e abandonar uma mentalidade má e corrupta.
Quando suportamos a confrontação, abandonando as nossas próprias razões e tomando as atitudes certas e mudando de vida, somos transformados a semelhança de Cristo e alcançamos a misericórdia de Deus (ver Salmo 141:5) e temos a nossa consciência livre e lavada da culpa do pecado e das obras mortas e seremos verdadeiramente livres para cumprir plano do Senhor em nossas vidas, para glorificá-lo e amá-lo de todo o nosso coração (Hebreus 9:11-14).
Textos mais importantes no velho testamento:
Gn 4:10
Gn 9:4
Gn 9:6
Gn 22
Ex 24:1-11
Ex 29:10
Lv 1-9
Dt 12:16
     
Amado leitor, desejo que essas verdades lhe ajudem a viver uma vida feliz, livre e abundante em Deus. Que a graça e a misericórdia de Jesus sejam derramadas sobre a sua vida, trazendo cura e libertação nas áreas que você precisa avançar, uma nova esperança de uma vida restaurada e da verdade de que somos preciosos, aceitos e amados por Deus.
Que Deus o abençoe.


Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
Elaborado de 31.08.2009 a 02.09.2009 
       
    
  

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Bruno, fico feliz em ter de alguma sido instrumento para a sua edificação. A graça e a paz do Senhor. Ele nos ama e sempre está disposto a nos dar um novo começo qualquer tenha sido nossa história pregressa.

      Excluir